sexta-feira, 22 de novembro de 2019

O DIA EM QUE EU VI A LUZ DIVINA E A INCONVENIÊNCIA DAS SEGUNDAS INTENÇÕES

Um intelectual, amigo virtual e leitor assíduo das minhas crônicas, em tom de brincadeira, tentou sugerir que no tempo em que eu dirigia novenas em SURUBIM também estaria de olho nas beatas. Respondi que durante a minha adolescência, em vista da educação rígida que tive dos meus pais, eu jamais cometi a inconveniência das segundas intenções nos meus atos. Tudo o que eu fazia era somente para satisfazer ao meu ego e ao meu espírito tendo por direção um único sentido. Por exemplo, se eu dançasse com uma jovem, era, e ainda é apenas pelo prazer da dança. Se eu orasse, meu pensamento seria somente dirigido a Deus para agradecer e não para pedir algo ou ter a salvação da alma, algo que ele poderá me conceder se achar que mereço. Acredito que Deus não é surdo e nem esquecido, e, portanto, não é preciso gritar e nem me juntar a outras pessoas para que ele me escute, e nem tão pouco viver repetindo o que ele já sabe. Também, nunca gostei de me relacionar com as mulheres do meu círculo de amizades, para também não misturar as intenções. Isso evita ainda que os amigos fiquem sabendo até dos pormenores íntimos entre os dois. Outro detalhe é que naquele tempo o namoro consistia somente em pegar nas mãos da amada e trocar alguns beijinhos de leve. Inclusive até os meus vinte anos de idade eu ainda era virgem. 
Muita gente pratica uma determinada ação com a intenção em outra totalmente diferente. Por exemplo, existem homens que rezam em templos, coletivamente, mas a verdadeira intenção é paquerar as fieis e/ou insistir nos seus pedidos às divindades para ter um melhor lugar no céu, ou seja, a busca por uma recompensa. Dentro desta situação há a inconveniência das segundas intenções. Já outros beatos costumam dispensar ao próximo, o contrário daquilo que eles aprenderam na religião. Falando em religiões são muitos os seus dogmas e escândalos, e cada uma, acha que o melhor caminho para se chegar até Deus é o orientado por ela, e que a verdadeira bíblia é aquela usada pelos seus fieis. 
Não lembro se quando criança ou adolescente (antes ou depois dos 12 anos de idade), eu pedi emprestada uma bíblia de um tio, que era “Pai de Santo” e que tinha um terreiro de umbanda na casa dele. Na sala da minha casa, lendo a mesma, ao pronunciar o enunciado que Jesus Cristo curou um cego, um facho de luz veio do telhado até a mesa onde eu estava. Assustado, eu olhei para cima e a luz sumiu. Procurei observar se existia alguma telha quebrada onde a luz do sol pudesse passar pela sua fresta e fazer aquele efeito, mas todas estavam intactas. Para testar, pronunciei novamente as mesmas palavras da cura do cego pelo filho de Deus, e novamente o facho de luz se fez presente. Foi então que dei um grito, assustado, chamando a minha mãe. Se eu contasse isso a uma pessoa religiosa, ela poderia dizer que aquela foi a luz do demônio, pois aquela bíblia era de um umbandista. 
Mas, como também não sou nenhum santo, quando iniciei a minha vida sexual, dei os meus “pulos de cerca”. Eu tinha uma namorada que ainda era virgem (naquele tempo a virgindade tinha uma durabilidade maior). Ela, além de pudica, era muito religiosa, daquelas beatas fanáticas por missas e procissões. Era uma moça séria que pouco sorria para as pessoas. Vivia confessando ao padre pecados que ela não tinha e me dizendo que esperava o paraíso. Eu repetia para ela o que dizia mais ou menos uma canção do Chico Buarque que fez muito sucesso na época: “A vida pra você é feita de um rosário que custa tanto a se acabar. Isso é mesmo necessário para se salvar? Pra que tanta reza? Você já perdeu a conta de tanto rezar!”. Enquanto isso, eu tinha outra namorada, mas que não era só minha. Ela não tinha paraíso, pois não dava muita importância, não, uma vez que forjava o seu sorriso e fazia do mesmo, profissão. Como as duas moravam uma perto da outra, o acaso fazia com que essas duas que a sorte sempre separou, se cruzassem pela mesma rua, olhando-se com a mesma dor. Portanto, todas as vezes que escuto a música “UMAS E OUTRAS” do Chico Buarque, de onde eu tirei as palavras acima, eu lembro-me delas duas. Confira a letra da canção dando um clique no link do clipe musical abaixo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário