Neste dia, 21 de
junho de 2020, completo 69 anos. Aprendi
durante o meu curso de Psicologia que quando você envelhece, lembra dos fatos
antigos e esquece os mais recentes. Porém, até agora, eu tenho me recordado
desses dois tempos, e em nenhum desses momentos me lembro de ter reclamado
muito da vida. Não tenho pedido muita coisa a Deus. Só agradecido. Para você, o
que é uma vida boa? Casa luxuosa, carrão na garagem, badalações, roupas e
calçados de grife, cardápios de primeira, variados a cada dia? Para mim, uma
vida melhor é aquela que pode lhe proporcionar uma qualidade de vida que nem
sempre se baseia em luxo e muito dinheiro. Você pode possuir tudo isso, mas se
são vivenciados em meio a barulho, poluição ambiental, estresse de trânsito
caótico todos os dias, preocupações com as receitas e despesas, problemas
familiares, brigas com o cônjuge e filhos, consciência pesada por ter adquirido
a fortuna de forma delituosa (não confundir com os desacertos de certos políticos que não ligam
pra isso), etc., não representa qualidade de vida. Portanto, desde a infância, eu considero que tive uma vida boa, de forma honesta e sem grandes ambições,
mesmo em meio à convivência com a pobreza extrema de alguns parentes que ao
mesmo tempo eram ricos. Eu explico o porquê, a seguir.
Na minha
infância e adolescência eu pude sentir de perto o que é uma vida boa, como
também a que estou vivenciando atualmente, pois sei, estrategicamente, me
esquivar dos problemas. O principal segredo é simples, procurar não se
endividar, dormir e acordar cedo, e antes do raiar do sol, sair de casa, seja
para trabalhar, fazer compras ou viajar. Lembre do conselho da sua avó: “Deus
ajuda a quem madruga”. Desde os meus 14 anos de idade, enquanto parentes e
amigos curtiam as suas férias em lugares agitados, cheio de badalações, eu ia
me deleitar com a tranquilidade do campo em CAMARAGIBE ou SURUBIM. Naquela época esses dois municípios eram pouco habitados e
com muitas estradas ainda carroçáveis. Para se ter uma ideia, uma viajem de RECIFE à SURUBIM durava dez horas e a maioria
das estradas não tinham asfalto. Na mata de CAMARAGIBE, corria um
rio de águas caudalosas e límpidas, e nos lugares onde havia mais de dois
metros de fundura eu e os primos podíamos avistar uma moeda lá no fundo do seu
leito, a qual, nós apostávamos quem mergulharia e a pegaria por primeiro. Portanto,
a sua limpidez era algo impressionante. A casa desse primo era feita de barro e
chão batido, mas ao redor existia a melhor das riquezas, espalhadas em vários
hectares de terra, com centenas de plantações de macaxeira e fruteiras, açudes com
peixes de toda qualidade, fogão à lenha que preparava deliciosas refeições, etc.
Em SURUBIM, terra da
vaquejada, onde foram iniciados os primeiros rodeios da história desse certame
em Pernambuco, moravam os meus tios nos lugarejos denominados “Capim” e “Cai-Ai”. Neste
último, distante aproximadamente três léguas do centro da cidade, eu ajudava
aos primos nas tarefas do campo, como roçar mato, carregar água da cacimba para
encher as jarras e quartinhas, além de plantar e colher algodão. Dos capuchos
de algodão nos retirávamos as suas sementes. O algodão nós vendíamos na fabrica
de tecido e a semente na fábrica de óleo que existiam nessa cidade. Um amigo do
meu tio tinha uma bodega (venda) e um jumento. Todos os sábados eu o ajudava na
compra de mantimentos para esse seu estabelecimento comercial que ele buscava
na feira de SURUBIM. Na ida eu podia ir montado
no jumento, mas na volta ele vinha carregando muita mercadoria pesada e assim
eu o acompanhava a pés. Porém, essa lida do campo, essas viagens a pés ou
cavalgando em cima desse animal, respirando aquele ar puro do lugar, curtindo o
cantar dos pássaros pelo caminho silencioso das estradas cheias de árvores, se
tornavam num prazer, pela diversão sadia que me proporcionava. Ainda hoje, os
calos que orgulhosamente tenho nas mãos, deixaram registrados esses bons
momentos.
No sítio dos meus primos em CAMARAGIBE, além dos gostosos banhos de rios de águas translúcidas,
onde avistávamos peixes coloridos, a gente também plantava e colhia macaxeira,
pescava nos açudes e lagoas, colhia e saboreava na hora as frutas tiradas do pé e
passeava por dentro da mata, sem nenhum receio de qualquer tipo de perigo. Já
no centro de SURUBIM a família PESSOA, tendo como matriarca dona Xanda, me acolhia em sua casa como se eu
fosse da família. Ainda hoje considero os seus membros como PRIMOS
POSTIÇOS. O professor Naércio (que editou
um livro sobre a história dessa cidade), Manoelzinho (ambos “in memoriam), as professoras NATÁLIA, Grijalba e Gerusa, zezinho da padaria cristal, local onde eu ia pegar pães quentinhos de manhã cedo, roberto PESSOA (hoje promoter
da cidade). Manoelzinho, mais conhecido como “Gradim”, saia comigo
pelos bares dessa cidade com um enorme gravador no ombro, ouvindo nas alturas o cantor PAULO DINIZ. Quando o
time dele ganhava (SANTA CRUZ) ele gravava através daquelas antigas fitas
cassetes os momentos dos gols, e ao chegar junto da galera torcedora adversária,
aumentava o volume com o locutor berrando: “Gooool do Santa Cruz!”. Não sei
como ele não era agredido. Imaginem se essa afronta fosse hoje. Esse seu
apelido foi colocado pela galera que gostava de futebol, porque o nome do
Técnico do SANTA CRUZ naquela época era GRADIM.
Hoje ainda posso reviver esses momentos saudáveis (com exceção do rio da mata de Camaragibe, pois a humanidade podre local o entupiu de lixo), quando, junto
à esposa, filhos e netos, vou me divertir num clube de campo ou numa praia semi deserta ou
ainda naquelas horas agradáveis que passo com esse primo que considero igual a um irmão, o qual
morava antigamente numa casa de taipa em CAMARAGIBE e hoje
possui um casarão de três andares com piscina em Olinda, lugar onde os meus netos
se esbaldam em alegria ou, então, nos bons hotéis de SURUBIM, oportunidade em que aproveito para fazer uma visita ao
prédio residencial dos meus primos postiços, pois os meus tios já partiram para
outra vida. Atualmente eu moro
num dos lugares mais altos do meu bairro, numa casa bem simples, mas de onde
podemos avistar o mar, com alguns pés de fruteira ao redor que pela manha os
pássaros vêm cantar, e por estar num clima de montanha as muriçocas não gostam
de ir lá nos visitar. Durante todos os 365 dias do ano, ainda temos um "AR
CONDICIONADO NATURAL", ao abrirmos as portas e janelas, ocasião em que lembro aquele filme clássico "O MORRO DOS VENTOS UIVANTES". Para completar, mora
comigo uma mulher amorosa, honesta e digna que me ama. O que mais posso desejar?
Portanto,
tratando-se do que podemos chamar de VIDA BOA, seja vivida
no campo ou na cidade, antigamente ou atualmente, termino esta que é a minha
última crônica, finalizando assim este que considero o meu livro virtual, ao completar 128 textos, com uma canção tema que também se intitula “VIDA BOA”. Esta música foi gravada por uma dupla que nunca deveria ter
sido desfeita, uma vez que problemas de fórum íntimo não deveriam interferir em
parcerias ou negócios. Além do mais, os seus componentes representavam e
defendiam a VERDADEIRA MÚSICA SERTANEJA. Era uma
das poucas duplas sertanejas que fazem referência em suas músicas, dessas
coisas boas vividas no campo. Estou falando de VICTOR E LÉO. Clique no link abaixo para conferir a sua letra
e as belas paisagens daquilo que eles falam na canção.