O OLHAR DO CAVALO
Era tarde da noite. Vi um desses cavalos abandonados que a Prefeitura
de Olinda não toma providências para recolhê-los, deitado em frente da minha
casa. Achei que ele estava com sede e fome, então lhe ofereci água e algumas
cascas de frutas, enquanto lhe falava com a voz suave. Ele deixou que eu o
acariciasse e me encarou com um olhar que parecia refletir a dor do mundo ou
talvez incomodado com três tagarelas que discutiam futebol perto dele com uma
tonalidade de voz que parecia estar longe um dos outros, como acontece hoje em
dia em lugares públicos, quando o ensurdecedor barulho de vozes torna os
ambientes incômodos. Depois, imediatamente, ele deve ter sentido por mim a
afeição dos fies, como sentem todos os animais quando bem tratados e tentou me
seguir até dentro de casa.
A partir daí me veio à recordação das vezes em
que cavalguei nesse tipo de animal, quando adolescente, montado no seu dorso em
Surubim, Pernambuco, e após os vinte anos de idade em Jacobina na Bahia. Nesse
último município, os vaqueiros do lugar me fizeram montar num cavalo bravo que
desembestou comigo por dentro da caatinga que é um mato rasteiro e cheio de
plantas com espinhos. Só ouvia de longe os vaqueiros gritando: “Deita a cabeça
junto à cela!”. Mas já era tarde, voltei com o rosto ensanguentado, cortado
pelo matagal. Ainda bem que os outros cavaleiros que também já estavam montados
em seus cavalos conseguiram me alcançar e segurar aquele cavalo bravo. Mas foi
o sangue mais doce que já escorreu pelo meu rosto. Uma experiência
indescritivelmente muito boa. Uma música do Renato Teixeira, intitulada “Cavalo
bravo” fala da beleza e o vigor emanados desse animal e da vontade que dá
cavalgá-lo.
Falando no Renato, sábado passado fui com a
esposa assistir ao seu show no Teatro Guararapes em Olinda, o qual se
apresentou junto ao Oswaldo Montenegro e ambos nos deixaram maravilhados e com
a sensação que esse evento ficará na história dos grandes encontros dos
monstros sagrados da MPB. Dois mil e quatrocentos ingressos esgotados.
Constatei que ainda existe muita gente de bom gosto musical. Pessoas de todas
as idades. Pais ou mães ao lado dos seus filhos adolescentes, cumprindo o dever
de também orientá-los musicalmente. Agora, segue aqui um conselho: Quem for para algum show no teatro Guararapes,
não fique no estacionamento localizado ao lado da Cia. de Segurança Prosegur.
São mais de duas mil pessoas saindo num mesmo instante, vários funcionários
desnorteados para direcionar centenas de carros a um único portão ESTREITO. Com
certeza os últimos sairão após duas horas. Mas, falando das minhas
experiências com os cavalos e na música do Renato Teixeira que infelizmente não
cantou no show “Cavalo Bravo”, confira abaixo o seu clipe musical, clicando no
link.
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