sexta-feira, 28 de agosto de 2020

NEM TODOs os RETIRANTEs fogem DA SECA
Muitos retirantes da seca do Nordeste tornaram-se celebridades. Um deles foi Lula que migrou com a sua família de Caetés em Pernambuco para São Paulo em cima de um caminhão conhecido como “Pau de Arara” e conseguiu a façanha de ser Presidente do Brasil. Outros não tiveram a mesma sorte, e nessa pandemia pelo covid-19, quando milhares de brasileiros perderam os seus empregos nas grandes metrópoles, esses retirantes voltaram para as suas cidades de origem. Mas nem todo retirante foge da seca. Muitos saem do campo para ter uma oportunidade de estudar, trabalhar e vencer na vida. O meu pai saiu do agreste pernambucano, largou a enxada para conseguir algo melhor no Recife, vindo a pés de Surubim, numa viajem que durou três dias. Conseguiu o que almejava. A minha esposa saiu do lugar onde morava, mesmo sendo fértil em plantações e com fartura na mesa, mas tinha fome de cultura, e aos doze anos, ainda analfabeta, foi para a cidade grande para ter uma formação universitária. 

Teve duas (Pedagogia e Direito), além de acesso a dois empregos por concurso público. Há que se ressaltar que naquele tempo não havia aquisição de material escolar, fardamento, transporte e lanche grátis. Portanto, ela não teve ajuda nem dos parentes e tão pouco do governo. Naquela época tudo era por conta do estudante ou de seus parentes. A maioria das vezes as tábuas de salvação eram as bibliotecas e os cafezinhos que impedia os cochilos nas madrugadas em cima dos livros, após um dia árduo de trabalho como empregada doméstica e governanta, cargo que ao ser revelado na classe da primeira universidade fez as colegas se afastarem dela, até o dia em que constataram as suas notas alta nas provas, o que fez com que todas retornassem ao seu convívio para fazer parte do seu grupo de estudo. Algumas pessoas só lhes dão valor quando você serve a elas, e assim mesmo, a maioria esquece de agradecer o que você fez por ela. Outra pessoa próxima que saiu de sua casa de taipa para um palacete com piscina foi o meu primo.
Mais uma vez refiro-me a uma canção do compositor e cantor Caetano Veloso que compôs a música “No dia em que vim-me embora”, mostrando a fuga de um personagem das agruras do lugar onde morava para tentar uma vida melhor na capital, quando se depara com a cidade grande e fica perdido numa verdadeira selva de pedras. Veja a letra a seguir:
No dia em que eu vim-me embora / Minha mãe chorava em ai / Minha irmã chorava em ui / E eu nem olhava pra trás / No dia que eu vim-me embora / Não teve nada de mais / Mala de couro forrada com pano forte brim cáqui / Minha avó já quase morta / Minha mãe até a porta / Minha irmã até a rua / E até o porto meu pai / O qual não disse palavra durante todo o caminho / E quando eu me vi sozinho / Vi que não entendia nada / Nem de pro que eu ia indo / Nem dos sonhos que eu sonhava / Senti apenas que a mala de couro que eu carregava / Embora estando forrada / Fedia, cheirava mal / Afora isto ia indo, atravessando, seguindo / Nem chorando nem sorrindo / Sozinho pra Capital / Nem chorando nem sorrindo / Sozinho pra Capital”. Portanto, você que está pensando que tem um problemão, ele pode ser um probleminha, se tiver fé e determinação para alcançar o que almeja. Agora veja o vídeo desta canção, arte de Rodrigo Lobatto, postada no youtube

5 comentários:

  1. Alguma situação ruim pode se transformar numa boa oportunidade pra mudança.
    Aquele ditado " do limão se faz uma boa limonada"
    Depende muito de quem vai saber conduzir tal situação.

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  2. Verdade!!!Sábias palavras!!Dura realidade de muitos nordestinos que foram para grandes metrópoles.Onde ajudaram de alguma forma a essas grandes metrópoles serem oque é hoje mas de contra partida foram muitas vezes humilhados por serem simplesmente nordestinos!!!O que falta para nosso povo é apenas acesso à Educação de qualidade!!!Conhecimento é tudo!!Muda histórias!!

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  3. Gostei demais , tá de parabéns por palavras tão bonitas

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  4. Passei por aqui hoje, vi minha amiga Fátima Quintas e Caetano. Portanto já conheço o caminho. Luciene Freitas

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