O HAITI É AQUI (NO
COQUE)
Na Rua
Cabo Eutrópio no bairro do Coque em Recife, cidade de Pernambuco no Brasil,
onde você pode constatar um trânsito louco que se mistura a tudo o que não
deveria estar na via de tráfego, existem três pontos de lava jato (não
confundir com aquele que é o terror dos ladrões do erário) que deixam o seu
carro novo de novo. Os meninos da periferia que não querem imitar certos
políticos, pois, ao contrário de quem rouba a nação, se eles roubarem até
galinhas dos vizinhos serão presos de VERDADE, cobram entre dez a quinze reais
por uma lavagem e aspiração do seu carro. No lugar onde se cobra dez reais, foi
o lugar onde eu mais gostei do serviço. Eles lavam com xampu automotivo,
aspiram por dentro, colocam produtos anticorrosivos nas dobradiças das portas e
borrifam um liquido cheirosos nas poltronas e painel. Um tratamento desses em
outro local não sairia por menos de 40 reais. Enquanto isso, eles colocam uma
cadeira de balanço para mim do outro lado da calçada onde eu fico lendo o meu Jornal do Commercio e
comendo pipoca dessas de um real o pacote.
Curiosamente,
eu observei duas coisas interessantes nesse local. Os moradores do lugar ainda
podem colocar cadeiras nas calçadas e ficar conversando durante horas, sem ser
assaltados, coisa que dificilmente pode acontecer num bairro nobre, como Boa
Viagem, onde o risco de ter seus objetos levados pelos larápios é grande, e os
homens de lá são mais solidários. Certa vez eu trafegava pela Rua Cabo Eutrópio
com um carro velho, quando ele quebrou o chicote da embreagem. Apareceu gente
de todos os lados para me ajudar. Se isso ocorresse no bairro do Rosarinho, por
exemplo, alguém desceria dos prédios luxuosos para me dar um auxílio? Porém, os
moradores do Coque só têm um defeito, são folgados demais. Gostam de caminhar
tranquilamente pela avenida, ao invés de fazer isso por cima das calçadas. Mas
não são somente as pessoas. Lá você pensa estar na Índia ou no Haiti, pois
nessa via de trafego intenso podemos encontrar ainda animais de grande ou
pequeno porte, crianças trafegando de bicicleta que alguns levam mais de três
pessoas, mulheres conversando despreocupadamente enquanto caminham, homens
sóbrios ou bêbados pelo asfalto, etc. Dessa forma os motoristas que passam
nessa avenida principal do Coque não podem desenvolver com os seus veículos
velocidade superior a 40 km/h. A prefeitura nem precisa regulamentar a
velocidade e colocar câmeras de vídeo para fiscalizar.
Agora, a
maior prova de que os moradores de lá são muito folgados eu constatei numa
dessas vezes em que fui levar o carro para ser lavado. Os rapazes como já me
conhecem e me chamam de “Vovô”, levou uma cadeira de balanço para a calçada do
outro lado da rua, onde a tarde tem uma sombra gostosa e uma boa ventilação.
Quando eu ia atravessar a rua para me sentar, uma moça com uma criança no colo
sentou na cadeira primeiro. Prontamente, o lavador de carros levou outro
assento para mim. Um rapaz que estava bebendo numa barraca ao lado também
sentou nela antes de mim. Educadamente lhe falei que aquela cadeira tinha sido
colocada ali para mim. Ele se levantou. Quando eu fui comprar a minha pipoca
deixei o jornal no assento da cadeira. Ao voltar, tinha uma moça sentada em
cima do jornal amassando-o. Ao me ver, indo em direção à cadeira, ela se
levantou. Para completar a folga deles todos os lava jatos da aludida rua
estavam em recesso após as festas do natal. Vá ver que os lavadores de
automóveis estavam de ressaca ou estão ganhando muito dinheiro com esse
serviço. Como diz uma música do Caetano Veloso, o Haiti é aqui (no Coque). Confira
a letra da canção no clipe postado abaixo:
Gostei da matéria 👍👏👏 amigo Cláudio Melo
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