segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

O HAITI É AQUI (NO COQUE)
Na Rua Cabo Eutrópio no bairro do Coque em Recife, cidade de Pernambuco no Brasil, onde você pode constatar um trânsito louco que se mistura a tudo o que não deveria estar na via de tráfego, existem três pontos de lava jato (não confundir com aquele que é o terror dos ladrões do erário) que deixam o seu carro novo de novo. Os meninos da periferia que não querem imitar certos políticos, pois, ao contrário de quem rouba a nação, se eles roubarem até galinhas dos vizinhos serão presos de VERDADE, cobram entre dez a quinze reais por uma lavagem e aspiração do seu carro. No lugar onde se cobra dez reais, foi o lugar onde eu mais gostei do serviço. Eles lavam com xampu automotivo, aspiram por dentro, colocam produtos anticorrosivos nas dobradiças das portas e borrifam um liquido cheirosos nas poltronas e painel. Um tratamento desses em outro local não sairia por menos de 40 reais. Enquanto isso, eles colocam uma cadeira de balanço para mim do outro lado da calçada onde eu fico lendo o meu Jornal do Commercio e comendo pipoca dessas de um real o pacote.
Curiosamente, eu observei duas coisas interessantes nesse local. Os moradores do lugar ainda podem colocar cadeiras nas calçadas e ficar conversando durante horas, sem ser assaltados, coisa que dificilmente pode acontecer num bairro nobre, como Boa Viagem, onde o risco de ter seus objetos levados pelos larápios é grande, e os homens de lá são mais solidários. Certa vez eu trafegava pela Rua Cabo Eutrópio com um carro velho, quando ele quebrou o chicote da embreagem. Apareceu gente de todos os lados para me ajudar. Se isso ocorresse no bairro do Rosarinho, por exemplo, alguém desceria dos prédios luxuosos para me dar um auxílio? Porém, os moradores do Coque só têm um defeito, são folgados demais. Gostam de caminhar tranquilamente pela avenida, ao invés de fazer isso por cima das calçadas. Mas não são somente as pessoas. Lá você pensa estar na Índia ou no Haiti, pois nessa via de trafego intenso podemos encontrar ainda animais de grande ou pequeno porte, crianças trafegando de bicicleta que alguns levam mais de três pessoas, mulheres conversando despreocupadamente enquanto caminham, homens sóbrios ou bêbados pelo asfalto, etc. Dessa forma os motoristas que passam nessa avenida principal do Coque não podem desenvolver com os seus veículos velocidade superior a 40 km/h. A prefeitura nem precisa regulamentar a velocidade e colocar câmeras de vídeo para fiscalizar.
Agora, a maior prova de que os moradores de lá são muito folgados eu constatei numa dessas vezes em que fui levar o carro para ser lavado. Os rapazes como já me conhecem e me chamam de “Vovô”, levou uma cadeira de balanço para a calçada do outro lado da rua, onde a tarde tem uma sombra gostosa e uma boa ventilação. Quando eu ia atravessar a rua para me sentar, uma moça com uma criança no colo sentou na cadeira primeiro. Prontamente, o lavador de carros levou outro assento para mim. Um rapaz que estava bebendo numa barraca ao lado também sentou nela antes de mim. Educadamente lhe falei que aquela cadeira tinha sido colocada ali para mim. Ele se levantou. Quando eu fui comprar a minha pipoca deixei o jornal no assento da cadeira. Ao voltar, tinha uma moça sentada em cima do jornal amassando-o. Ao me ver, indo em direção à cadeira, ela se levantou. Para completar a folga deles todos os lava jatos da aludida rua estavam em recesso após as festas do natal. Vá ver que os lavadores de automóveis  estavam de ressaca ou estão ganhando muito dinheiro com esse serviço. Como diz uma música do Caetano Veloso, o Haiti é aqui (no Coque). Confira a letra da canção no clipe postado abaixo:

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