Uma
história de aventura E TRABALHO em Cuiabá
O JORNAL DO COMMERCIO de Pernambuco em seu caderno de futebol trouxe a notícia de que o time
de futebol CUIABÁ conseguiu este ano
(2021) o acesso histórico à SÉRIE “A”. Lendo esta notícia
recordei imediatamente da minha viagem a essa capital do Mato Grosso, quando
fui defender uma tese em um dos Congressos de Servidores Públicos do Brasil que
era realizado a cada três anos em vários Estados do nosso país pela Confederação dos Servidores Públicos do Brasil - CSPB. Quando existiam
esses congressos nacionais, os servidores de Pernambuco se inscreviam e se
faziam representar levando teses em defesa da classe do funcionalismo público
através da FESIASPE – Federação dos Sindicatos e Associações de Servidores Públicos de
Pernambuco, tendo ainda hoje como presidente o senhor Amaro de Mello
Vasconcellos, conhecido popularmente como MARINHO. O que se passou durante essas
viagens de ônibus que duraram três dias de ida e mais três de volta, e durante a
minha estada nessa cidade, foi algo interessante, inusitado e em alguns
momentos engraçado, e que você, leitor ou leitora, poderá se divertir, “viajando”
comigo nesta lembrança daquela que não deixou de ser uma aventura emocionante,
onde eu consegui juntar o útil ao agradável e que pode lhe trazer também
boas recordações dos seus passeios e aventuras.
Esse fato se deu durante essa minha participação no XVI CONGRESSO NACIONAL DE SERVIDORES PÚBLICOS DO BRASIL realizado na Universidade Federal de Mato Grosso, no período de 25 a 29 de julho de 1988. Era tempo das “vacas
gordas”, ou seja, cada congressista
chamado de “Delegado” recebia do seu órgão público onde trabalhava uma ajuda de custo para
essas viagens e o governo do Estado e a prefeitura do Recife,
disponibilizavam um ônibus de turismo à FESIASPE para o translado
dos congressistas. De minha parte eu recebi dez diárias do DER-PE onde eu trabalhava. Esse foi o primeiro congresso que participei e levei
uma tese para ler nas sessões plenárias em defesa dos direitos dos servidores. Já em Mato Grosso, nas horas vagas, fomos conhecer o pantanal e ficamos
deslumbrados com a sua beleza que a mãe natureza nos proporcionou.
Para me sair bem na defesa de minha tese, fui auxiliado pelo meu pai,
veterano no assunto, o qual me ensinou a redigir e a falar em público durante as sessões plenárias. Ele recomendou a um amigo que me auxiliasse nesse tipo de
trabalho. Depois de muitos anos desse ocorrido este meu amigo que ainda hoje
faz parte do Conselho Deliberativo da Associação onde eu trabalho me contou
muito tempo depois o outro lado dessa recomendação que foi bastante hilária. É que
o meu pai era um desses rudes matutos que veio do interior e que se realizou na
cidade grande e estranhava alguns vestuários meus na época, seguindo à moda do movimento da JOVEM GUARDA e outros procedimentos que eu fazia em casa e disse para o amigo ZÉ MARIA: “Zé, dê o devido apoio logístico ao meu filho, mas não se espante com as
excentricidades dele, pois o mesmo é meio “ESTRANHO”. Zé Maria, que também era das “antigas”, me confessou que ao
ouvir o barulho do meu secador de cabelos, às cinco horas da manhã, dando um “trato” na minha longa
cabeleira antes de sair para um passeio em CUIABÁ, lhe deixou com a “mosca atrás da orelha” e pensou consigo mesmo:
“Hum, esse cara é meio estranho mesmo! Será que ele é viado?”
Porém, as estranhezas para mim e os fatos engraçados dessa longa viagem
começaram numa parada forçada numa dessas cidades por onde passamos e onde
estava havendo uma barreira sanitária com vacinação obrigatória contra a
malária. O enfermeiro portava uma espécie de pistola com um pedal, onde ele
colocava essa pistola no nosso braço, acelerava no pedal e jogava um jato
dentro do músculo de tal forma que você
tinha a impressão de que o seu braço iria cair de tanta dor. Um dos colegas congressistas que vinha se exibindo dentro do ônibus,
por ser um crioulo forte, alto e musculoso, viajava sem camisa, enquanto os
outros tremiam de frio, mesmo estando agasalhados. Ele chegou diante desse
enfermeiro, jogou o ombro junto ao rosto do profissional e disse em alto e bom
som: “Esses maricas ficam
gemendo com uma picadinha. Pode mirar aqui no meu ombro, senhor enfermeiro”. Por sacanagem, o enfermeiro “acelerou” o pedal mais do que
o necessário e quando apertou o gatilho, o crioulo fortão deu um TREMENDO PULO e um GRITO TÃO ALTO que ecoou a 100
metros de distância: “AAAIIIIIIII...”. A gargalhada foi geral, e ele, de tão envergonhado, vestiu a camisa, se
recolheu ao seu assento no ônibus e foi dormir. E durante toda a viagem não
quis conversar com mais ninguém.
Durante essa longa viagem, o Estado onde o ônibus demorou mais para
atravessar de uma fronteira para outra foi a Bahia. Praticamente
passamos aproximadamente 24 horas para sair do seu território. Lá em Cuiabá
ficamos em alojamentos, separados para ambos os sexos. As mulheres ficaram
isoladas numa ala e os homens noutra da Universidade Federal de Mato Grosso que cedeu as suas salas de aula, as quais foram feitas de pousadas com
camas beliches. Durante o dia tínhamos as três refeições e no auditório da
Universidade defendíamos as nossas teses. A minha eu nem me recordo mais qual
foi, mas lembro que recebeu várias moções de apoio. Nas horas vagas, como eu
era daquele tipo namorador, eu cortejei uma professora cuiabana que participava
desse congresso e passamos a namorar. Fomos com a nossa comitiva conhecer o
pantanal onde ao descer do ônibus, quase pisei na cabeça de um jacaré. Fomos
também até a fronteira com as terras Paraguaias, onde ninguém conseguiu descer do ônibus
por causa do frio que fazia lá fora. Aquela mulher que me enamorei foi a primeira professora e
negra da minha vida. Quando cheguei de volta a Pernambuco, ela me enviava cartas dizendo que “A saudade que sentia de mim cortava como aço de navalha”. Mas não podíamos levar adiante aquele caso amoroso, pois ela tinha a
vida própria dela lá em Mato Grosso e eu tinha a minha
aqui em Pernambuco. Foi então que
resolvemos pôr um fim em nossos contatos.
Houve um fato muito engraçado durante um dos nossos encontros fortuitos para namorar. De madrugada combinamos que ela sairia do alojamento dela e eu do meu para nos encontramos numa das salas de aula que estava vazia. Após a nossa “LUA DE MEL”, nós íamos caminhando de volta aos nossos alojamentos pelos corredores da universidade quando avistamos algo parecido com uma “alma penada”. O susto foi grande, mas tivemos coragem de chegar mais perto daquele vulto misterioso. Para a minha surpresa era um amigo da minha delegação, conhecido por MESQUITA (IN MEMORIAN) que com insônia vagava coberto da cabeça aos pés por um longo cobertor. Esse fato inusitado, mais aquele do secador de cabelos, de quando em vez são ainda lembrados em nossas Assembleias e reuniões de diretoria da nossa associação em Recife, sempre acompanhados de boas gargalhadas.
Para finalizar este relato dos bons tempos que não voltam mais, escolhi como trilha sonora uma canção do folclore pantaneiro e complementada pelo compositor Paulo Vanzolini gravada inicialmente pela cantora NARA LEÃO e depois pela DIANA PEQUENO, e muito outros artistas, intitulada CUITELINHO (apelido que os moradores do Pantanal do Mato Grosso deram para o pássaro BEIJA-FLOR) que em uma de suas estrofes, fala da mesma confissão daquela namorada de CUIABÁ: “A tua saudade corta / como aço de navalha” e lembra também essa viagem e da nossa travessia para o Paraguai, quando diz: “Quando eu vim da minha terra / despedi da parentaia / Eu entrei em Mato Grosso / E dei em terras paraguaias”. Confira esta bela canção e as paisagens deslumbrantes deste clipe com a letra dela, interpretada pela cantora NARA LEÃO:
Interessante seu relato. Lembranças bem narradas que nos faz entrar na sua história.
ResponderExcluirParabéns pelo sucesso, afinal não há vitória sem lutas. 👏👏👏👏👏👏
ResponderExcluirVocê escreve muito bem. Envolve a gente. Obrigada por esse prazer.
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